Primeiro longa de ficção da diretora Marianna Brennand, ‘Manas’ estreia no circuito brasileiro de cinemas no dia 15 de maio, com distribuição da Paris Filmes. Um dos mais aguardados lançamentos nacionais do ano, o filme já foi premiado mais de 20 vezes desde a sua première mundial no Festival de Veneza, em agosto do ano passado. Na cidade italiana conquistou o Director’s Award, honraria máxima da mostra Giornate Degli Autori, e de lá pra cá não houve um evento competitivo sequer do qual tenha saído sem premiação. A extraordinária trajetória internacional do filme segue em andamento nos próximos meses com a estreia em mais de 20 salas na França a partir do dia 26 de março, e a exibição em diversos outros festivais renomados, como os de Toulouse, Toronto, São Francisco e Istambul.
“Manas” contou com o apoio de renomados cineastas internacionais. Walter Salles, que recentemente conquistou o Oscar de Melhor Filme Internacional por “Ainda Estou Aqui”, e os irmãos Jean Pierre e Luc Dardenne, vencedores de duas Palmas de Ouro em Cannes, atuaram como produtores associados do filme. Os cineastas apostaram no potencial do projeto desde a fase de roteiro, contribuindo significativamente para a sua realização.
‘”Manas’, de Marianna Brennand, é um primeiro longa-metragem brilhante. A narrativa é ao mesmo tempo sensorial e emocional, os atores são cativantes, e a direção é inspirada, precisa e desprovida de sentimentalismo. Marianna nos oferece a possibilidade de mergulhar em um mundo que ainda não havíamos visto, trazendo luz aos seus demônios internos. Uma grande estreia de uma diretora extremamente talentosa”, elogia Salles.
Luc Dardenne endossa: “É um filme que me emocionou profundamente. Sua abordagem da vida de uma jovem e sua família no Norte do Brasil revela a existência de uma comunidade, de uma sociedade onde a longa história de dominação masculina está violentamente inscrita nos corpos das mulheres. Este filme de estreia da diretora Marianna Brennand é, a meu ver, marcado pela intensidade e precisão de sua visão, assim como por sua profunda conexão com seus personagens – qualidades que sinalizam o surgimento de uma cineasta verdadeiramente excepcional.”
O longa tem sido amplamente elogiado também pela crítica especializada. Vittoria Scarpa, do Cineuropa, destacou que o filme “deixa você atordoado – pela história que conta, pela forma como a conta e pelas atuações penetrantes de seus atores”. Já Matthew Joseph Jenner, da International Cinephile Society, descreveu “Manas” como “um filme sincero, afetuoso e genuinamente impactante”.
A sensibilidade com que a diretora Marianna Brennand abordou o tema, evitando a exposição explícita da violência e a exploração do corpo feminino, tem sido um dos aspectos mais elogiados do longa. Além disso, “Manas” foi listado entre os dez filmes brasileiros com potencial para concorrer ao Oscar de 2026, segundo previsões de especialistas na plataforma Letterboxd.
“Manas” é uma produção da Inquietude, em coprodução com Globo Filmes, Canal Brasil, Pródigo e Fado Filmes (Portugal), com produção associada da VideoFilmes, Maria Carlota Bruno, Walter Salles, Braulio Mantovani, Marcelo Pedrazzi, Felipe Sholl, Marcelo Grabowsky e Marcelo Máximo
(Brasil); da Les Films du Fleuve, Delphine Tomson e Jean-Pierre e Luc Dardenne (Bélgica) e de Dominique Welinski (França). Foi premiado com o Emerging Filmmaker Award (Sam Spiegel International Film Lab) e teve o apoio do Programa Ibermedia. No Brasil, o filme tem distribuição da Paris Filmes.
SOBRE O FILME
Rodado na Amazônia, o longa traz a estreante Jamilli Correa, no papel principal, Dira Paes, Fátima Macedo e Rômulo Braga, além de atores e atrizes locais da região. O roteiro vencedor do Sam Spiegel International Film Lab é assinado por Felipe Sholl, Marcelo Grabowsky, Marianna Brennand, Antonia Pellegrino, Camila Agustini e Carolina Benevides. Também integram a equipe o diretor de fotografia Pierre de Kerchove (“Paloma”, “Pico da Neblina”), o diretor de arte Marcos Pedroso (“Bicho de Sete Cabeças”, “Motel Destino”), a montadora Isabela Monteiro de Castro (“O Céu de Suely”, “Cidade Baixa”) e a figurinista Kika Lopes (“O Palhaço”, “Simonal”).
“Manas” narra a história de Marcielle/Tielle (Jamilli Correa), uma jovem de 13 anos que vive na Ilha do Marajó (PA) junto ao pai, Marcílio (Rômulo Braga), à mãe, Danielle (Fátima Macedo), e a três irmãos. Ela cultua a imagem de Claudinha, sua irmã mais velha, que teria partido para bem longe após “arrumar um homem bom” nas balsas que passam pela região. Conforme amadurece, Tielle vê ruírem muitas das suas idealizações e se percebe presa entre dois ambientes abusivos. Preocupada com a irmã mais nova e ciente de que o futuro não lhe reserva muitas opções, ela decide confrontar a engrenagem violenta que rege a sua família e as mulheres à sua volta.
A fagulha inicial para a realização do filme ocorreu quando Marianna tomou conhecimento de casos de exploração sexual de crianças nas balsas do Rio Tajapuru, na Ilha do Marajó (PA). Em 2014, ela ganhou um edital de desenvolvimento de roteiro promovido pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) e deu início às pesquisas para o trabalho, que incluíram diversas viagens para a região. Primeiramente, havia a intenção de realizar um documentário, campo no qual a cineasta atuava, mas logo essa ideia foi abandonada.
“No início da pesquisa, me deparei com uma questão ética muito séria. Era inaceitável para mim como documentarista colocar à frente da câmera crianças, adolescentes e mulheres para recontarem situações de abuso pelas quais haviam passado. Seria cometer mais uma violência contra elas. É um tema muito duro e complexo. O desafio era retratar não só uma dor física e emocional, mas também existencial, e isso foi algo que a ficção me permitiu trabalhar. Busquei estabelecer uma espécie de mergulho sensorial que conectasse o espectador à experiência emocional da Marcielle. Eu optei por fincar o filme – em todos os seus aspectos – em um naturalismo que se liga ao documental, abrindo mão de qualquer artifício que pudesse desviar da vivência dela e de seu emocional”, explica a cineasta.
Para a composição do elenco, que teve direção de Anna Luiza Paes de Almeida e preparação de René Guerra, formou-se um núcleo adulto composto por atores profissionais de diversas partes do Brasil (Fátima Macedo (CE), Rômulo Braga (MG/DF) e Dira Paes (PA), além de Ingrid Trigueiro (PB), Clébia Souza (PE), Nena Inoue (PR) e Rodrigo Garcia (PE)) e um núcleo infantil escolhido a partir de testes com centenas de crianças moradoras da Região Metropolitana e de ilhas próximas a Belém.
Uma das mais talentosas e premiadas atrizes do cinema nacional, Dira Paes interpreta a policial Aretha. O papel foi construído baseado em pessoas reais como o delegado Rodrigo Amorim, conhecido por combater a exploração sexual infantil nas balsas da região, e em Marie Henriqueta Ferreira Cavalcante, uma referência no enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes na região Amazônica. “A personagem da Aretha foi escrita especialmente para a Dira, que foi uma grande parceira desde o início. A Dira sempre foi um farol para mim, uma mulher que me inspira pelo seu ativismo, uma das grandes atrizes brasileiras e uma mulher paraense que conhece muito bem a realidade que abordamos no filme”, comenta a diretora.
Selecionada para viver a protagonista Marcielle, Jamilli Correa não tinha qualquer experiência prévia com atuação e surpreendeu pela técnica que demonstrou ao longo de todo o processo. “Eu sempre brinco que ela foi atriz em vidas passadas. A gente só destravou algo que já estava dentro dela. A Jamilli é uma força da natureza. Ela tem um silêncio preenchido que imprime na tela muitas nuances e uma inteligência cênica impressionante, qualidades raras”, resume Marianna Brennand. O brasiliense Rômulo Braga e a cearense Fátima Macedo, respectivamente nos papéis do pai e da mãe da personagem principal, completam o elenco principal do filme.
Sinopse
Marcielle, uma jovem de 13 anos que vive na Ilha do Marajó (PA), começa a entender que o futuro não lhe reserva muitas opções. Encurralada pela resignação da mãe e movida pela idealização da figura da irmã que partiu, ela decide confrontar a engrenagem violenta que rege a sua família e as mulheres à sua volta.