A cultura da pesca artesanal na Costa Branca do Rio Grande do Norte ganhou um retrato poético a partir das lentes do artista visual João Oliveira. Depois de anos de pesquisa na região, ele apresenta ao público o resultado de seu trabalho por meio da exposição “Memórias do Mar”, montada na Pinacoteca Potiguar. A vernissage aconteceu no último dia 26 de abril, quando também foi relançado o fotolivro “Sal e Mangue” (2021). A mostra fica em cartaz até o dia 18 de maio.
A inspiração para a exposição surge da profunda imersão de João Oliveira na pesquisa antropológica, especialmente o seu envolvimento com o Núcleo de Antropologia Visual (NAVIS), na UFRN, sob a orientação da professora Lisabete Coradini, que assina a curadoria ao lado de Paula Lima. Os trabalhos foram desenvolvidos em paralelo à sua pesquisa de mestrado na região, focada na fotoetnografia.
O interesse pela Costa Branca tem relação com as memórias da família. “É um lugar que chama atenção pelas características sociais e geográficas. Tem forte presença da indústria do sal, e ao mesmo tempo você vê a cultura da pesca artesanal”, conta o artista. Seus estudos se centraram especialmente nas comunidades de Diogo Lopes, Sertãozinho e Barreiras.
Fundador da galeria Margem Hub, João Oliveira monta pela primeira vez uma individual sua na Pinacoteca Potiguar. A exposição, nesse caso, não apenas ressalta sua trajetória como fotógrafo, mas também revela seu amadurecimento enquanto artista visual contemporâneo, explorando diferentes suportes além da fotografia, e diferentes práticas de atelier além do trabalho de campo.
A mostra está distribuída em núcleos e compõe-se de instalações, colagens e processos experimentais, como a cianotipia. Destacam-se séries como “Derivas”, onde o artista apresenta registros de objetos encontrados nas áreas de mangue, que muito dizem sobre as relações sociais existentes na comunidade. A série “Barcos” explora a relação simbólica entre a comunidade e suas embarcações. Enquanto a instalação “Cardume” revela uma visão singular dos peixes e da cultura pesqueira. A exposição resgata também a série “Sal e Mangue”, de 2021, resultado de sua primeira imersão na Costa Branca, entre os anos de 2015 e 2019.
“Memórias do Mar” não é apenas uma exposição, mas o resultado de um longo percurso de pesquisa e reflexão. E representa, segundo João Oliveira, “a relação interligada e não hierárquica” de alguns modos de produção do conhecimento. “A gente tem a própria ciência social, a arte e os saberes tradicionais. É uma exposição que se coloca no lugar de intersecção desses campos”, comenta o artista.
A exposição “Memórias de Mar” está sendo realizada com recursos próprios. Conta com produção da Margem Hub e apoio da Fundação José Augusto. A pesquisa sobre a cultura da pesca artesanal na Costa Branca só foi possível graças à bolsa CAPES, pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da UFRN, dentro do Núcleo de Antropologia Visual (NAVIS).
Exposição “Memórias de Mar”, de João Oliveira
Local: Pinacoteca Potiguar – Praça Sete de Setembro, s/n, Cidade Alta
Visitação: até 18 de maio.
Entrada gratuita
Sobre o artista
João Oliveira é um artista visual nascido em Natal, no Rio Grande do Norte. Suas pesquisas giram em torno do desenvolvimento de narrativas críticas sobre a história, o imaginário cultural latinoamericano, relações decoloniais e direitos humanos.
Alguns de seus trabalhos são “Macau: Sal e Mangue” (2015), “Sem Chão” (2016), “Onde se esqueceu de lembrar” (2017), “Sobre os sonhos que não vemos” (2018), “Circula-me nas veias” (2019), “Manual de quarentena 20.20” (2020), “Entremeados” (2020) e de diversas outras séries e ensaios fotográficos.